Passa da meia noite e meu sono (como sempre) não chega. Estou aqui rolando, me dividindo entre jogar World of Warcraft, assistir o discurso do McCain na Globo News, terminar apresentação de duas pesquisas para o Epi 2008.... Tudo isso para tentar não ouvir meus pensamentos.
Tem muito barulho aqui dentro da minha calota craniana derivado de um dia intenso. Imensamente mais intenso do que os dias que tenho vivido nos últimos meses.
Acordei lá pelas quatro e meia da manhã, perdendo o sono, talvez antevendo o dia recheado de sensações e sentimentos diferentes que se revezariam durante todo o tempo.
O dia até que começou bem. Já tinha me organizado ontem para que pela manhã eu pudesse me dedicar a resolver coisas pessoais, já que esse lado tem sido negligenciado ultimamente.
Resolvi um grande, imenso problema que me acompanhava já há dez anos e que pouquíssimas (raras) pessoas sabiam. Um problema que havia sido criado por um ex-noivo e que tornou minha vida um verdadeiro inferno durante todo esse tempo. O bom de tudo foi saber que apesar de todas as conseqüências que isso acarretou na minha vida, pude provar que não existe nada que calma, fé, paciência e inteligência possam resolver.
A tarde foi muito mais triste. Ao chegar à faculdade fiquei sabendo que uma ex-aluna, menina linda, inteligente, 30 anos, terminando o pós-graduação, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) hemorrágico. Grosso modo significa que, literalmente, a carótida dela rompeu espontaneamente durante a noite, criando um hematoma imenso no cérebro. Menina saudável, que ia a academia regularmente, não fumava, não bebia em demasia, magra, sem sinais e sem sintomas da bomba relógio que carregava.
Cirurgia, coma, morte cerebral. Fiquei com ela na UTI durante algum tempo, segurando a sua mão, sentindo a temperatura subir rapidamente (péssimo sinal) e pensando o quanto a nossa vida é frágil, é efêmera, no quanto aquela menina havia investido, o quanto tinha lutado para chegar onde estava pra tudo de esvaziar assim tão de repente. Chorei na frente daquele leito como eu fazia tempo que não chorava. Chorei por ela, chorei por mim.
Em um momento egoísta, fiquei pensando que eu poderia estar naquela situação também e o quanto eu não aproveito as chances, as oportunidades, os bons momentos. O quanto eu tenho adiado a vida. Daqui a pouco talvez não de mais tempo.
Depois fiquei quase uma hora com os pais da menina, orientando, consolando, ouvindo, informando. O olhar de medo, de tristeza, de incredulidade, de esperança, de gratidão pelo conforto, a sensação da mão da mãe dela que não soltou a minha durante nossa longa conversa estão presentes em mim até agora.
Agora estou aqui, acordada. Não durmo pensando naquela menina que não acordará. Não durmo pensando no quanto sou abençoada por ter passado mais esse dia. Não durmo pensando que aquilo que me tirou o sono por uma década acabou. Não durmo pensando que queria ter dividido esse dia com quem eu estava habituada a dividir cada momento da minha vida. Não durmo ouvindo o barulho da chuva e do vento na minha janela me mostrando que a vida continua e que seguirá sua rota. Outros problemas virão, outras soluções chegarão, outros dias como esse talvez aconteçam. Não durmo porque sei que hoje, mais do que nunca preciso rezar. Rezar para agradecer, rezar para pedir. Por mim, por ela, por todos e por tudo.
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